(Esse estudo foi retirado no site, do autor, Todd Farley, www.mimeistry.com)
A senhora sentada próxima a mim no trem teria acabado de destruir os fundamentos da minha existência se eu houvesse acreditado nela. Ela me disse que a representação é imprópria, não cristã e sem ligação com a igreja. Essa afirmação pode não perturbar você, mas eu sou um Ministro de Mímica.
Eu me acostumei a uma certa falta de entendimento e à resistência das pessoas às artes ministeriais, mas chegar ao ponto de alguém dizer que elas são pecado... isso é extremo demais. Então, eu me recompus e comecei com uma dissertação sobre os aparecimentos da arte na Bíblia, especialmente as artes feitas por Ezequiel. Com quatro horas de viagem pela frente, eu teria muito tempo para convence-la sobre a verdade. Quando minha palestra estava basicamente no final, a mulher olhou para mim com olhos distantes de uma pessoa que tem compaixão por um ‘maluco-beleza’. Acho que minha explanação não apenas não a convenceu, mas completamente e inegavelmente deixou aquela senhora ainda mais confusa.
Quantos de nós como o caso acima nos sentimos confusos com as expressões artísticas e as artes em geral? Dá a impressão que você tem que ser um artista para poder compreender arte. Quando você lê escrituras que são mais artísticas, você fica confuso, achando que você nunca as entenderá não importa quanto o pregador a explique? Por que no Apocalipse Jesus aparece com cabelo branco, olhos de fogo e com estrelas em Sua mão? Por que Ezequiel deitou-se de lado, queimou seu cabelo e comeu esterco de vaca? Por que Oséias casou-se com uma mulher indigna? Acho que a grande questão é por que eu deveria me importar com toda essa história de artes? O problema é entender esses ‘mistérios’. Por que eu deveria tentar entender isso e então, como eu aplico essas lições para a minha vida? O que a arte tem a ver com minha vida?
Teatro Profético e Mímica Judaica
“Eu também falei (com vocês) através dos profetas, e multipliquei visões (para vocês) e (apelei a vocês) através de parábolas representadas pelos profetas”(Oséias 12.10).
Ao longo das Escrituras, Deus usou expressões teatrais para comunicar Sua vontade e Sua palavra. Isso pode ser através da mímica, representação, histórias, parábolas, alegorias, canções, dança, comunicação por gestos, sinais, etc. A palavra de Deus é cheia de exemplos das artes ministeriais e das belas artes. Contudo, falhamos em ver o que está obviamente lá. Por quê? Simplesmente porque lemos a Bíblia ao invés de aprecia-la.
Há inúmeros exemplos de artes nas profecias. A mímica é usada mais de 40 vezes nas Escrituras. Mais de um terço do ministério de Ezequiel é feito através da Mímica Judaica. Parábolas, como forma de histórias, são usadas mais de 49 vezes. A maiorias delas foram contadas por Jesus. Parábolas, em sentido geral, são vistas mais de 250 vezes por todo o Velho e Novo Testamento. O livro de Cantares de Salomão é uma narrativa alegórica. A vida inteira de Oséias foi um teatro profético vivo. Esses são apenas alguns exemplos.
Oséias 12.10 revela muitos pontos importantes sobre as artes:
1. Deus escolheu falar conosco através das artes;
2.O artista é um ministro de Deus, separado para Deus e sob a direção de Deus;
3. O ministério das artes é um chamado profético.
Se nós podemos entender as representações e artes que aconteceram na escritura de maneira viva e dramática, ganharemos uma compreensão mais rica da Palavra de Deus, e então, de Deus.
Mímica Judaica
A mímica judaica é vista quando um profeta gesticula e se movimenta para comunicar sua mensagem. Essas mímicas são entregues de três maneiras:
1. Ações sem narrativa
2. Ações com narrativa antes ou depois
3. Ações com narrativa entregues ao mesmo tempo.
Oitenta por cento de nossa comunicação é não verbal. Isso faz da mensagem entregue com mímica poderosamente clara e muito bem comunicada. Aqueles que não ouviam mais a palavra de Deus, podiam vê-la.
Os oito mensageiros que se utilizaram de mímica são: Agabus, Ahijah, o Anjo do Apocalipse, Elisha, Ezequiel, Oséias, Isaías e Jeremias.
A mímica é usada para mostrar o julgamento de Deus (1 Reis 11.30-40), para mostrar a vontade provisional de Deus (2 Reis 13.15.19), para ilustrar julgamentos de vergonha (Isaías 20.1-6), para predizer e avisar (como visto nas profecias de Ezequiel e Jeremias*), e para deixar claros os resultados das ações de alguém (Atos 21.10-11). Esta lista pode continuar. Vamos sumarizar ao afirmar que a mímica é usada para clarificar, ilustrar e demonstrar.
As Belas Artes
Nestes dias em que Deus está restaurando todas as coisas ao seu devido lugar, veremos o ressurgimento das belas artes e do ministério das belas artes. Todas as expressões de criatividade são do Senhor, o qual sozinho é o Criador (Gênesis 1; João 1). É pelo Seu fôlego e dádiva em nós que criamos e nos expressamos artisticamente. Podemos usar de forma errônea este dom, como muitos têm feito, mas o dom ainda é de Deus. Como devemos, então, usar estes dons?“Servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale como que entregando oráculos de Deus, se alguém minsitra, ministre segundo a força que Deus concede para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo a quem pertence a glória, e o domínio para todo sempre, amém.”
(1 Pedro 4.10-11)
Os Usos da Arte
A arte pode trazer o reconhecimento com dignidade e honra (Êxodo 28.2,3,39). Pode falar da glória dos céus, assim como o tabernáculo é uma tênue cópia da glória dos céus (Êxodo 24.9-18; 25.40; Hebreus 8.5). Todas as coisas são feitas para glorificar a Deus. Sua criação nos revela Suas verdades. Se pintarmos uma queda d’água, não temos de justificar a pintura colocando uma escritura nela (como muitos fazem). A queda d’água em si própria é um testemunho do poder e da glória de Deus (Romanos 1.20). A arte pode apenas comunicar glória, beleza e alegria as quais são características divinas. Contudo, há usos da arte que levaram o homem ao arrependimento, salvação e a uma grande revelação de Deus.
Eu gostaria de ter uma segunda chance com aquela senhora no trem. Desta vez do começo, bem do começo. Amar a Deus, que é onde tudo começa. Usar o corpo que Deus nos deu para nos expressarmos ao nosso semelhante, a Deus com as mãos levantadas e nos movimentos teatrais. Toda a arte não passa de uma extensão de nosso desejo de amar e nos comunicarmos com Deus... e todos amam...
*Mímica judaica de Jeremias e Ezequiel: Jeremias 13:1-4, 18, 19, 25:15-38; 27:1-28; 43:8-13; 51:62-64; Ezequiel 3:26-27; 4:1-17; 5:1-17; 6:1-14; 7:23-27; 12:1-6,17-28; 20:45-49; 21:1-7,12-13; 24:12-23; 32:17-21; 37:1-25
Todd Farley é reconhecido internacionalmente como um expert líder na Arte da Mímica, como professor, e mímico. Já produziu diversos livros e vídeos de histórias, teorias, filosofias e aplicações da mímica e das artes em ambientes cristãos e seculares. Como um educador ordenado ministro, e mestre em mímica, Todd tem um visão única das artes.
Autor: Todd Farley